Estágio Supervisionado 3
Unidade 1
As cidades e suas possibilidades educativas
Para muitos de nós, foi a oportunidade de termos as primeiras aproximações investigativas com espaços educativos, escolas, salas de aulas. Isso pode ter se tornado ainda mais desafiante também por termos uma orientação voltada para tais paradigmas conceituais, interacionistas, e com abordagens chamadas ideográficas - muito diferentes do que, em geral, fomos formados.
Tivemos a oportunidade de refletir sobre rotinas, conflitos e saberes pedagógicos e realizamos nossa primeira intervenção pedagógica nesse curso, em um espaço de educação formal. Planejamos nossas ‘vidas’ na escola com a construção de nossos planos de ação / cronogramas. Observamos, vivenciamos, para depois idealizarmos nossas oficinas: sonhamos!
Como o explicado por Madalena Freire, vivenciamos uma dinâmica com movimentos que foram desde o idealizar/fantasiar ao ‘cair na real’ (desilusionamentos), levando-nos à instrumentalizações para sonhos mais reais. Com isso, planejamos e replanejamos, sistematicamente, nossa ação pedagógica, para depois, desenvolvê-la, e... avaliamos (o calcanhar de Aquiles). Alguns de forma individual, outros em grupos, mas todos amparados de alguma forma, pela turma toda e pela equipe de professores.
O desenvolvimento da disciplina e os relatórios finais, de uma forma geral, demonstram as efetivas construções de conhecimentos e percepções.
Nesse Estágio Supervisionado 3 nossa proposta é ampliarmos a experiência de estágio para além dos muros da escola tomando a cidade como referência para a elaboração de projetos de ação educativa. Consideramos que é em uma “escala intra urbana que a vida cotidiana e a relação entre cidade, cultura e cidadania podem ser analisadas com maior profundidade” (CAVALCANTI, 2001, p. 13). Também não excluímos algumas articulações mais amplas e em rede, entre âmbitos locais e globais.
1.1 A cidade educativa : seus lugares , seus habitantes , seus ofícios , sua cultura
[…] falar em produção do espaço é falar desse espaço como componente da produção social em geral […]. Isso é diferente de falar em organização, que ressalta a forma e o aspecto técnico dessa forma, que destaca também um sentido de exterioridade frente ao modo de produção da sociedade, um sentido de neutralidade frente a esse modo de produção. (CAVALCANTI, 2001, p. 13)
Assim, com o Estágio 3, propomos a discussão de cidade como produção de espaço urbano e consideramos a importância da superação do entendimento de organização do espaço para o entendimento de espaços produzidos.
Consideramos também as contradições na produção do espaço urbano e da cidade, pois concordando com Cavalcanti (2001, p. 16), pensar a cidade é pensar também em lógicas não capitalistas, pré-capitalistas; é pensar na cidade como obra; é, pensando a cidade centralizada na lógica da produção capitalista, pensar também nos interstícios e nas contradições espaciais, nas desconstruções e (re) territorializações.
Ao considerarmos a racionalidade do modo de produção capitalista, consideramos também as contra-racionalidades, pois
Ante a racionalidade dominante, desejosa de tudo conquistar, pode-se de um ponto de vista dos autores não beneficiados, falar de irracionalidade, isto é, de produção deliberada de situações não razoáveis […]. Essas contra-racionalidades se localizam, de um ponto de vista econômico, entre as atividades marginais, tradicional ou recentemente marginalizadas, e, de um ponto de vista geográfico, nas áreas menos modernas e mais ‘opacas’, tomadas irracionais para usos hegemônicos.
(SANTOS, 1996, p. 246, apud CAVALCANTI, 2001, p. 18)
Defender um projeto de cidades educadoras é realçar seu caráter de agente formadora, sua dimensão educativa. Todas as cidades educam, à medida que a relação do sujeito, do habitante, com esse espaço é de interação ativa [...]. (CAVALCANTI, 2001, p. 21)
Aqui você deve se lembrar do conceito de cultura com o qual estamos trabalhando. A cultura diz respeito a todos os fazeres, saberes e viveres pelos quais as pessoas se constituem em seus lugares, nas suas cidades, nas suas terras. A cultura diz respeito às diferentes maneiras como as pessoas trabalham, produzem, pensam as mais diferentes profissões/ações que compõem a vida da sua cidade – a sua dinâmica, as particularidades de cada bairro. Orientamos para uma perspectiva em que […] torna-se relevante compreender a cidade como um lugar que abriga, produz e reproduz culturas.
Na realidade, para a análise da cidade como modo de vida materializado cotidianamente, como ‘espaço banal’ (Santos, 2000), é mesmo imprescindível a consideração dessa instância cultural. (CAVALCANTI, 2001, p. 19)